quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Vieses cognitivos: conhecer para evitar.

Hoje vamos falar sobre três vieses muito comuns no campo da medicina: o viés de ancoragem, o viés de disponibilidade e o viés de enquadramento. Eles podem levar a decisões equivocadas e afetar a qualidade do atendimento aos pacientes.

O viés de ancoragem acontece quando um médico se fixa em uma informação inicial, geralmente a primeira que recebe, e tende a dar muito peso a ela, deixando de considerar outras possibilidades ou evidências posteriores que poderiam levar a uma conclusão diferente. Exemplo: ao avaliar um paciente idoso restrito ao leito e em uso de sonda vesical de demora, com quadro sugestivo de delirium, o plantonista levanta a hipótese de ITU, solicitando somente troca de dispositivo, hemograma e sumário de urina, deixando de fazer um exame físico completo, onde identificaria uma úlcera de pressão infectada em região sacral.

Já o viés de disponibilidade ocorre quando um médico se baseia em informações prontamente disponíveis em sua mente, muitas vezes devido a experiências anteriores ou casos que estudou recentemente. Exemplo: um clínico conseguiu chegar ao diagnóstico de uma doença genética rara em um paciente com sinais e sintomas de hipogonadismo, passando, após isso, a solicitar testes genéticos de custo financeiro elevado em seu rastreio inicial, causando ônus desnecessário à maioria dos pacientes.

Por fim, temos o viés de enquadramento, que acontece quando a forma como uma informação é apresentada influencia a tomada de decisões. Exemplo: uma paciente, com história de múltiplos atendimentos por crise de ansiedade vai ao pronto socorro com queixa de palpitações e cefaleia, sendo classificada pela triagem como ficha verde. Ao observar o histórico de atendimentos, o plantonista prescreve apenas um benzodiazepínico e dá alta à paciente. Horas depois, ela retorna, dessa vez instável hemodinamicamente, sendo diagnosticada com taquicardia paroxística supraventricular.

É importante destacar que esses vieses são apenas algumas das inúmeras armadilhas às quais todos estamos sujeitos. Por meio da autoavaliação e autocrítica podemos identificar os nossos próprios esquemas mentais, preconceitos e limitações.