A hanseníase, também conhecida como lepra, é uma doença que vem sendo registrada na literatura desde a Antiguidade, sendo motivo de grande sofrimento para seus portadores em razão do preconceito e do isolamento.
Na Bíblia, em Levítico 13:43-46, há registro sobre como casos suspeitos de lepra deveriam ser conduzidos e tratados pelos sacerdotes da época:
"Então o sacerdote o examinará, e se a inchação da praga na calva ou na meia calva for branca, tirando a vermelho, como parece a lepra na pele da carne, leproso é aquele homem, é imundo; o sacerdote certamente o declarará imundo; na sua cabeça está a praga. Também as vestes do leproso, em quem está a praga, serão rasgadas; ele ficará com a cabeça descoberta e de cabelo solto, mas cobrirá o bigode, e clamará: Imundo, imundo. Por todos os dias em que a praga estiver nele, será imundo; imundo é; habitará só; a sua habitação será fora do arraial."
Não se observa indicação de tratamento, tendo a doença sido tratada como hereditária, contagiosa, incurável e uma desgraça para o doente e sua família.
Esse tipo de visão ainda existe em diversas civilizações, apesar da descoberta do bacilo de Hansen (Mycobacterium leprae) ter ocorrido há cerca de 150 anos por Gerhard Henrik Hansen (Foto 1).
(Foto 1)
Na Idade Média, existia uma cerimônia católica chamada Missa da Separação, na qual os "leprosos" eram considerados legalmente mortos, podendo ter seu patrimônio confiscado pela Igreja. Além disso, após a cerimônia eram obrigaos a se isolar da sociedade e a se identificar com sinais sonoros, como apitos ou sinos (Foto 2), para que pessoas "saudáveis" pudessem se afastar deles.
O pintor Rembrandt (1606-1669) pintou o Rei Uzias que, de acordo com a Bíblia, contraiu lepra como castigo por ter desobedecido regras da religião. A obra é intitulada de "O Rei Uzias atacado pela lepra" (Foto 3), onde se observa lesões dermatológicas semelhantes às da doença.
(Foto 3)
A mais famosa passagem bíblica que retrata a história de um possível portador de hanseníase é a de Lázaro, que tinha o corpo coberto de feridas e estava morto, tendo sido ressuscitado por Jesus.
No Brasil, usa-se a palavra "lazarento" como sinônimo de leproso, contudo não há confirmação que ele era portador da doença. O pintor Jan Sadeler, em 1590, representou Lázaro na Casa do Homem Rico (Foto 4), estando o personagem bíblico no lado direito, tendo suas feridas lambidas por cães.
São Nicolau de Bari, que viveu entre 270-343 d.c, é retratado na literatura como um homem bondoso e generoso. Após sua morte, seu túmulo era procurado por milhares de pererinos que buscavam a cura de diversas doenças, inclusive a hanseníase. O pintor Gentile da Fabriano mostra em sua obra (Um Milarge de São Nicolau, 1425) a peregrinação dos leprosos em busca da cura (Foto 5).
(Foto 5)
O surgimento das sulfonas na decáda de 1940 mudou a história da doença, tendo em vista que os doentes puderam ser curados e, lentamente, os "leprosários" onde os eram isolados e abandonados, passaram a ficar vazios. Já na década de 1960, a clofazimina e a rifampicina entraram no programa terapêutico, aumentando os índices de cura. Fontes:
1) Livro: Medicando com Arte / Autores: Armando J. Bezerra e Jordano Pereira Araújo.
2) Foto 1: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gerhard_Armauer_Hansen
3) Foto 2: https://www.ricardocosta.com/
4) Foto 3: https://xaropedeletrinhas.com.br/rembrandt-a-religiao-e-a-medicina/
4) Foto 4: https://reparatoris.files.wordpress.com/
6) Foto 5: https://www.meisterdrucke.pt/artista/Gentile-da-Fabriano.html
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