quarta-feira, 17 de julho de 2024

Sobre o livro O Velho e O Mar. Autor: Ernest Hemingway

O Velho e O Mar (Em Portugues do Brasil): Ernest Hemingway, Fernando de  Castro Ferro: 9788528607598: Amazon.com: Books


O livro O Velho e o Mar foi publicado em 1952 e foi escrito por Ernest Hemingway. A obra conta um episódio da vida de Santiago, um velho pescador cubano que enfrenta um enorme desafio ao tentar pescar. A história é mais do que uma narrativa sobre perseverança, é uma reflexão sobre a senilidade.

"O Velho" é apresentado como alguém com vasta experiência de vida, simbolizando a sabedoria que muitas vezes é subestimada na sociedade moderna. Na medicina, é evidente que o envelhecimento traz uma riqueza de conhecimento que pode enriquecer a prática médica. Profissionais de saúde com décadas de experiência têm uma compreensão profunda do do processo de cuidado.

Santiago enfrenta dores, cansaço extremo e dúvidas sobre sua capacidade de pescar. Esses desafios refletem a realidade de muitos idosos que lidam com limitações físicas, doenças crônicas e declínio cognitivo. Na medicina, é essencial reconhecer e tratar essas questões de forma holística, focando não apenas nas doenças, mas também na qualidade de vida e na dignidade dos pacientes idosos.

Apesar de suas limitações, o personagem principal demonstra uma resiliência incrível. Ele adapta suas estratégias de pesca e permanece determinado a alcançar seu objetivo. Essa capacidade de adaptação é uma qualidade valiosa que muitos idosos possuem. 

A história de Santiago nos lembra da importância da compaixão e do respeito ao lidar com idosos. Entender suas histórias, preocupações e aspirações permite um cuidado mais eficaz e personalizado. Comunicação clara e respeitosa é essencial para que eles se sintam valorizados e compreendidos.

A jornada do "Velho" é um lembrete de que, independentemente da idade, cada indivíduo tem uma contribuição valiosa a oferecer e merece ser tratado com dignidade e respeito.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Poema: Pneumotórax - Manuel Bandeira



Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos,
A vida inteira que poderia ter sido e não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico.
Diga trinta e três.
Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
Respire
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O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
Então doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.


Ano1930

ContextoManuel Bandeira foi diagnosticado com tuberculose aos 18 anos. Não havia tratamento medicamentoso na época. O autor abordou a sua perspectiva na condição de doente em diversos poemas e textos. 

terça-feira, 25 de junho de 2024

Sobre o livro A Morte de Ivan Ilitch. Autor: Liev Tolstói

 

O livro A Morte de Ivan Ilitch foi publicado em 1886 e foi escrito por Liev Tolstói. A obra aborda um tópico difícil de ser discutido e muitas vezes envolto em silêncio e tabus: a morte. A história relata o declínio do protagonista, um juiz respeitado, após ser diagnosticado com uma doença terminal. O livro descreve as angústias, desconfortos e reflexões de Ivan Ilitch em sua jornada rumo à morte. 

Ambientada no século XIX, a obra nos leva a refletir sobre os desafios da abordagem médica relacionadas ao cuidado com o doente. No livro, Ivan Ilitch é descrito como alguém que sempre prezou pela imagem de saúde, levando uma vida aparentemente ideal. Porém, a doença revela-se inevitável e inescapável, trazendo à tona temas como negligência com a saúde pessoal e também falhas na assistência em saúde. 

Ao longo da leitura, podemos notar uma lacuna na abordagem dos médicos em relação a Ivan Ilitch. O foco principal das consultas parece ser a eficácia dos tratamentos e o alcance dos resultados, enquanto a empatia e o apoio emocional são negligenciados. Essa omissão ressalta a necessidade de uma abordagem mais holística no cuidado da saúde, levando em consideração não apenas as questões físicas, mas também as emocionais e psicológicas dos pacientes. 

A morte de Ivan Ilitch nos convida a repensar sobre a finitude da vida. Como médicos, é nosso dever encarar esse tema com sensibilidade, auxiliando os pacientes a compreender e lidar com seus sentimentos e, quando necessário, a fazer escolhas em relação aos cuidados proporcionais. A obra de Tolstói nos faz perceber que a morte é inerente à nossa existência, e nossa atitude diante dela pode transformar tanto as vidas de quem passa pela experiência quanto a nossa própria visão sobre o propósito da medicina. 

Que possamos aprender com a história de Ivan Ilitch e tornar a medicina mais compassiva, abraçando tanto o aspecto físico quanto o emocional dos pacientes que enfrentam a inevitabilidade da morte.



terça-feira, 30 de abril de 2024

Psiquiatria em obras de arte [2] - Esquizofrenia

ObraThe Fairy Feller's Master-Stroke (O Golpe de Mestre do Lenhador de Fadas)
AutorRichard Dadd
Ano1864

Richard Dadd foi um pintor Inglês conhecido mundialmente por suas pinturas de criaturas mágicas como fadas e duendes, tendo suas obras riqueza de detalhes e excesso de estímulos visuais [1].

Dadd pintou a obra “Fairy Feller's Master-Stroke” durante o século XIX, enquanto estava detido no State Criminal Lunatic Asylum of Bethlem Royal Hospital, onde foi internado após confessar o assassinato de seu pai em 1843. Richard cometeu o homicídio acreditando que seu pai era um demônio disfarçado. Além disso, ele acreditava que suas ações eram guiadas por Osíris, um deus egípcio, que o deu a missão de matar demônios. Há registros escritos do artista em que ele relatava se deitar a noite com a imaginação tão “aflorada” que passou a questionar sua sanidade mental [1, 2].

Ao se observar inicialmente o quadro, chama atenção a quantidade de personagens e elementos visuais que apresenta. O ambiente representado é um bosque, tendo, ao centro, a presença de um lenhador (Feller) empunhando um machado, estando envolto a inúmeras fadas e outras criaturas como uma libélula tocando trompete, uma rainha, um menino, um monge anão, um lavrador, um político, elfos curiosos, duas empregadas, um sátiro e alguns anões. No geral, são muitas criaturas e muitos acontecimentos em uma única obra [1, 2].

A conexão que a obra possui com  psiquiatria é relacionada à própria história de vida de Dadd. A psicose que levou o pintor a investidas criminosas faz com que sua imagem esteja intimamente associada à esquizofrenia, pois este diagnóstico foi atribuído à ele.

Pacientes com esquizofrenia podem exibir afeto inadequado, humor disfórico, ansiedade ou raiva, padrão de sono perturbado e falta de interesse em se alimentar. Alucinações, delírios, despersonalização, desrealização, ansiedade, fobias e déficits cognitivos são comuns, sendo estes associados fortemente a prejuízos profissionais e funcionais. Anormalidades no processamento sensorial e na capacidade inibitória, bem como redução na atenção, são também encontradas. Indivíduos com esquizofrenia mostram déficits na cognição social, podendo atender a eventos ou estímulos comuns do dia-a-dia e, depois, interpretá-los como significativos, levando à geração de delírios [3]. 


Curiosidade:
A banda Queen em seu álbum Queen II grava a música The Fairy Feller’s Master-Stroke, a qual teve sua letra composta por Freddie Mercury, tendo ele se inspirado na obra de Richard Dadd. A banda foi quase obrigada por Mercury a ir até Londres estudar o quadro de Dadd e, assim, então, criarem elementos diferentes e experimentais para a música, que foi adicionada ao post, legendada, abaixo. 



[1] https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/fullarticle/482008 

[2] Livro: Psicopatologias Retratadas em Obra de Arte. (Link: https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2022/10/20221027_psicopatologias_retratadas_em_obras_de_arte.pdf)

[3] DSM-V, página 101.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Vieses cognitivos: conhecer para evitar.

Hoje vamos falar sobre três vieses muito comuns no campo da medicina: o viés de ancoragem, o viés de disponibilidade e o viés de enquadramento. Eles podem levar a decisões equivocadas e afetar a qualidade do atendimento aos pacientes.

O viés de ancoragem acontece quando um médico se fixa em uma informação inicial, geralmente a primeira que recebe, e tende a dar muito peso a ela, deixando de considerar outras possibilidades ou evidências posteriores que poderiam levar a uma conclusão diferente. Exemplo: ao avaliar um paciente idoso restrito ao leito e em uso de sonda vesical de demora, com quadro sugestivo de delirium, o plantonista levanta a hipótese de ITU, solicitando somente troca de dispositivo, hemograma e sumário de urina, deixando de fazer um exame físico completo, onde identificaria uma úlcera de pressão infectada em região sacral.

Já o viés de disponibilidade ocorre quando um médico se baseia em informações prontamente disponíveis em sua mente, muitas vezes devido a experiências anteriores ou casos que estudou recentemente. Exemplo: um clínico conseguiu chegar ao diagnóstico de uma doença genética rara em um paciente com sinais e sintomas de hipogonadismo, passando, após isso, a solicitar testes genéticos de custo financeiro elevado em seu rastreio inicial, causando ônus desnecessário à maioria dos pacientes.

Por fim, temos o viés de enquadramento, que acontece quando a forma como uma informação é apresentada influencia a tomada de decisões. Exemplo: uma paciente, com história de múltiplos atendimentos por crise de ansiedade vai ao pronto socorro com queixa de palpitações e cefaleia, sendo classificada pela triagem como ficha verde. Ao observar o histórico de atendimentos, o plantonista prescreve apenas um benzodiazepínico e dá alta à paciente. Horas depois, ela retorna, dessa vez instável hemodinamicamente, sendo diagnosticada com taquicardia paroxística supraventricular.

É importante destacar que esses vieses são apenas algumas das inúmeras armadilhas às quais todos estamos sujeitos. Por meio da autoavaliação e autocrítica podemos identificar os nossos próprios esquemas mentais, preconceitos e limitações.

sábado, 6 de janeiro de 2024

Psiquiatria em obras de arte [1] - Transtorno Por Uso de Álcool

 

Obra: A Ressaca (Gueule de Bois)
Autor: Henri de Toulouse-Lautrec
Ano1888


A Ressaca (Gueule de Bois), obra do francês Henri de Toulouse-Lautrec é uma pintura que retrata o abuso de álcool. Toulouse-Lautrec sempre demonstrou aptidão para pintura e, aos 21 anos, abriu seu próprio estúdio. A obra “A Ressaca” foi criada no século XIX e foi inspirada em um relacionamento conturbado que viveu. Ele decidiu representar sua amante em uma obra e pintou-a como uma bêbada [1]

O artista apresentava abuso de álcool e foi internado em uma clínica para reabilitação em 1899. Durante a internação, pintou uma série de quadros para provar sua sanidade e recebeu alta. Após a liberação da clínica, mesmo com acompanhamento constante, continuou enfrentando o alcoolismo e uma vida devassa, falecendo aos 36 anos nos braços de sua mãe [1].

O transtorno por uso de álcool é definido por um grupo de sintomas comportamentais e físicos, os quais podem incluir abstinência, tolerância e fissura. Como a abstinência de álcool pode ser desagradável e intensa, os indivíduos podem continuar o consumo apesar de consequências adversas. Indivíduos com transtorno por uso de álcool podem dedicar grandes períodos de tempo para obter e consumir bebidas alcoólicas. A fissura por álcool é indicada por um desejo intenso de beber, o qual torna difícil pensar em outras coisas e frequentemente resulta no início do consumo [2]

         

Fontes:
[1] https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/fullarticle/208822
[2] DSM-5, página 492.